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Assombros Urbanos

(texto de apresentação na orelha do livro)

 

Depois de satirizar o mundo da repartição pública em A utopia burocrática de Máximo Modesto, Dionisio Jacob aponta agora 

 

sua metralhadora sardônica para o admirável mundo-cão da TV. Num romance em que utiliza diversas técnicas narrativas, 

 

sempre com inteligência e humor, ironiza a desorientação da sociedade brasileira pós-ditadura e, especialmente, a 

 

influência cada vez maior da televisão no país.

 

No programa Assombros na madrugada, desfilam "entrevistados" de dar inveja a conhecidos apresentadores do mundo televisivo 

 

brasileiro. Entre outras aberrações, há um dono de planta carnívora que pretende ensiná-la a ser vegetariana, um alfaite 

 

que se considera o rei do mundo e procura desesperadamente uma mulher para dar continuidade à sua dinastia, e um sujeito 

 

que afirma que seu amigo Sebastião se transformou num perigoso sapato causador de tumultos.

 

O apresentador do programa e protagonista do romance - talvez fosse melhor classificá-lo como "vítima" - é Luís Lima 

 

Vidigal, cuja principal característica é a indecisão na vida. Lima foi ator de teatro de vanguarda da década de 70 (levava 

 

duas horas para atravessar, completamente nu, um pequeno palco de seis metros), fez terapia do grito primal, morou em 

 

comunidade hippie e sempre nadou contra a corrente, mesmo sem saber exatamente aonde a correnteza o levaria.

 

Lima está muito contente com o fracasso de seu programa absurdo - que ninguém assiste, já que vai ap ar às duas da manhã. 

 

De repente, porém, Assombros na madrugada se torna cult e a audiência aumenta de forma assustadora. O apresentador entre 

 

em parafuso com o sucesso, pois "... sentia-se bem, e quando se sentia bem, ficava mal por causa de uma ansiedade que 

 

tomava conta dele, e quando começava a sentir-se mal, ficava um pouco melhor, mais sossegado, como se tudo estivesse no 

 

seu normal".

 

Assombros urbanos é um romance para rir dos despautérios da vida urbana brasileira, da desgraça dos outros e, enfim, de 

 

nós mesmos.

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